Nesta sexta iniciamos a segunda edição
do "Diálogos Cinematográficos"* do Museu da Imagem e do Som (MIS), com
a temática sugestiva: Escultura de tempo para um
Cine-Poesia. A mostra de
três dias traz trabalhos de cineastas que apresentam outras
possibilidades narrativas para o cine que se aproximem da experiência
subjetiva e autoral, abordando questões como o tempo, a poesia e os
sonhos como caminhos estéticos.
A principal
questão a ser discutida nestes dias é se seria possível, pela
construção das temporalidades criadas, ou "esculpidas" em um filme, ir
além do "narrar fatos"? Para além dos sentidos, a autoconciência individual e a busca podem
também ser estimuladas por esta arte?
O evento
iniciou com a conversa sobre o legado artístico do cineasta russo AndeiTarkovsky (1934-1986) que trabalhou o tempo como unificador
dos elementos temáticos em seus filmes e fez um cinema repleto de
metáforas, de abordagem poética, e até espiritual, sem seguir
estruturas já conhecidas.
A
possibilidade de representação dos sonhos e da memória, elementos constitutivos do seu filme "O Espelho"
(1974) que foi exibido na mostra,
pautou a conversa entre os presentes, levando a discussão de que um
filme pode existir também para ser "sentido", mas que para ser entendido.
E este pode ser um, dos vários caminhos que a linguagem cinematográfica
permite, para a apropriação do cinema como arte e como expressão
da subjetividade.Nesta sexta será exibido o filme "As quatro voltas" (Itália, 2010) de Michelangelo Frammartino, um belo e poético filme que apresenta uma narrativa fabular, percorrendo os ciclos de transformação da vida. Este é um filme onde um homem se transforma em cabra, que se transforma em árvore, que se transforma em carvão, que volta a aquecer a casa do homem. Um filme cíclico, como a vida, que abre caminhos para discutir a abordagem poética no cinema.
No sábado,
último dia da mostra, será exibido o recente filme "Sudoeste" (Brasil, 2011) de Eduardo
Nunes, obra que encerrou o último Festival de
Gramado e que está ganhando o mundo pelas inovações estéticas
que apresenta. Declaradamente influenciada pelo cine de Tarkovsky,
esta obra permitirá conversar um pouco mais sobre a atualidade
e a necessidade de (re) inventar constantemente as formas, narrativas
e estéticas desta arte de imagens, movimentos e tempo, encerrando
este primeiro ciclo de diálogos por um cinema de mais poesia,
imaginário e tratamento consciente do tempo.
Texto: Cassandra Oliveira
Foto: Maksuel Martins

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